terça-feira, 16 de outubro de 2018



 3ª Ficha bibliográfica

Caderno de leitura literária para a EJA : uma proposta étnico-racial

I- O campo do saber que é abordado:

Leitura literária da obra O Cortiço de Aluísio Azevedo

Referência completa do trabalho:

Nascimento, Deise Santos do
Caderno de leitura literária para a EJA : uma proposta étnico-racial / Deise Santos do Nascimento ; orientador Carlos Magno Santos Gomes. – Itabaiana (SE), 2015.
133 f. : il.
Dissertação (mestrado Profissional em Letras) - Universidade Federal de Sergipe, 2015.
1. Literatura – Estudo e ensino. 2. Leitores – Reação crítica. 3. Ensino – Meios auxiliares. 4. Cultura afro-brasileira. I. Gomes, Carlos Magno Santos, orient. II. Título.
CDU 82

Professores Examinadores

Prof. Dr. Carlos Magno Santos Gomes ( Presidente da Comissão Julgadora)
Profa. Dra. Jeane de Cássia Nascimento Santos ( Examinadora interna)
Profa. Dra. Maria de Fátima Berenice da Cruz (Examinadora externa)

Motivação:

Dissertação do Trabalho de Conclusão Final (TCF) apresentada ao PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS PROFISSIONAL EM REDE (PROFLETRAS) – UNIDADE DE ITABAIANA - da Universidade Federal de Sergipe (UFS), como requisito necessário para a obtenção de título de Mestre em Letras.

II- O problema e as questões de pesquisa:

III- Os objetivos:
 Geral:

Desenvolver uma prática de leitura literária com ênfase na formação do leitor e na análise crítica das representações afro-brasileiras na literatura, para turmas da Educação de Jovens e Adultos.

 Específicos:

- Desenvolver habilidades de leitura literária a partir de numa abordagem sociocultural;
- Identificar as questões étnico-raciais;
- Ampliar horizontes a partir da reprodução da obra, pelo olhar do leitor.


IV- A metodologia utilizada pelo pesquisador:

Proposta: Oficina de práticas literárias de leitura

A proposta da oficina de práticas literárias de leitura surgiu como fruto de um minicurso oferecido pelos mestrandos a professores e estudantes das licenciaturas, o evento foi realizado em dois dias e o público alvo demonstrou satisfação com abordagem metodológica, mas propuseram adaptações, como: aumentar o tempo de duração das oficinas e selecionar textos mais curtos, para a prática intertextual. Esse resultado foi aferido a partir da aplicação de questionários e discussões ao final de cada etapa do minicurso.

Como a proposta da abordagem na oficina ainda estava no campo das ideias, houve a necessidade de aprimorá-la e aplicá-la em sala de aula, verificando, assim, acertos e erros, para, então, elaborar um material socializando a abordagem metodológica.

Em março de 2015, os 25 alunos da escola estadual selecionada, matriculados na 4ª etapa do EJAEF (Educação de Jovens e Adultos no Ensino Fundamental II) tiveram contato, inicialmente, com o projeto a ser desenvolvido com eles. Um questionário foi aplicado para obter informações sobre o estado do aluno, ponto de vista e o comportamento antes do contato com a obra literária O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Nesse questionário, as questões básicas versavam sobre o nível de contato da turma com a leitura. O resultado trouxe considerações do pouco envolvimento e familiaridade com a prática de leitura literária.

A escola, onde se aplicou o método, está localizada no município de Laranjeiras/SE, dispõe de um total de 1140 alunos matriculados e 255 alunos, distribuídos no turno da noite. A instituição tem biblioteca e laboratório de informática, locais estabelecidos para o desenvolvimento e aplicação da Oficina de Leitura Literária.

As ações da atividade foram fundamentadas na proposta humanizada de Cruz (2012), a qual propõe a leitura literária considerando o exercício de três competências comunicativas: introspecção, imagem visiva e interlocução; agregou-se a isso os preceitos do método de leitura cultural de Gomes (2014), este propõe interpretar o texto usando comparações intertextualizadas, interdisciplinares, as quais partem do texto e atingem os conflitos do cotidiano. Gomes defende a possibilidade de debater questões sociais a partir do enredo de obras literárias em análise.

O projeto também foi mediado pelo método Recepcional de Bordini e Aguiar (1988, p. 86) foram aplicadas por entender que o sujeito, no contato com o texto, traz consigo a bagagem de experiências linguísticas e sociais e os processos de leitura permitem ao leitor que em um determinado momento haja “uma interação direcionada, na qual ele reconhece os significados que lhe são familiares ou enfrenta os desconhecidos, mas com indicações que o auxiliam a aceitar ou pelo menos criticar o novo e, ao mesmo tempo, situar a esse em relação ao que já aceita ou passa a rejeitar” (BORDINI; AGUIAR, 1988, p. 87).

Método Recepcional, Bordini & Aguiar (1988, p. 91), este contempla as seguintes etapas:

a) percepção do texto por meio da determinação do horizonte de expectativas do leitor, isto é, previsão de estratégias que possam romper e transformar conceitos, valores pré-estabelecidos;
b) atendimento ao horizonte de expectativas: disponibilizar informações que contemplem os anseios esperados, ou seja, que estejam de acordo com as conclusões esperadas e provenientes de um processo histórico;
c) ruptura do horizonte de expectativas, momento de propagar novas ideias também por meio de novos textos que se assemelhem aos anteriores em relação a um aspecto, que pode ser sobre o tema, o tratamento, a estrutura ou a linguagem; capaz de retomar as experiências de leitura das etapas anteriores;
d) questionamento do horizonte de expectativa, estudos levantados sobre a produção de sentido entre as etapas “b” e “c”, seguida de análises;
e) ampliação do horizonte de expectativas, oportunidade para a tomada de consciência das alterações e aquisições informacionais, obtidas através da experiência com a literatura disponibilizada.

A Oficina de Leitura Literária para a EJA é elaborada partindo do referencial teórico fundamentado na proposta humanizadora de leitura literária para a EJA de CRUZ (2012), nas práticas de leitura através do intertexto cultural proposto por GOMES (2014) e pelos cinco procedimentos do método Recepcional de BORDINI e AGUIAR (1988). Estes permitem trabalhar a percepção do texto através de um debate acerca do comportamento reconhecido diante do texto lido.

Com o objetivo principal de formar leitores conscientes de seu processo histórico e cultural para a formação de uma identidade, a análise do negro na literatura brasileira é fundamentada pela visão de DUARTE (2010).

As atividades desenvolvidas contaram com a utilização das TDIC (Tecnologias digitais de informação e comunicação), no intuito de atrair o leitor ao ato de ler.

Sendo assim, o trabalho foi respaldado nas orientações metodológicas da pesquisa-ação participativa, uma vez que esta oportuniza a autorreflexão por se fundamentar numa perspectiva social, participativa, prática e colaborativa; emancipatória; crítica e reflexiva.

almeja ajudar as pessoas a investigarem a realidade para mudá-la (Fals Borda, 1979). Ao mesmo tempo, também podemos dizer que ela procura auxiliar as pessoas a mudarem a realidade para investigá-la. Em termos mais específicos, a pesquisa-ação participativa tenta ajudar orientar as pessoas a investigarem e a mudarem suas realidades sociais e educacionais por meio da mudança de algumas das práticas que constituem suas realidades vividas. Diniz-Pereira e. Zeichner (2011, p. 40)

A formação do leitor foi trabalhada em seis encontros temáticos, cada um com duas horas- aula, a obra explanada foi O Cortiço, de Aluísio Azevedo, pautada, segundo a mestranda, numa perspectiva prática, contextualizada, dialógica associada às questões da cultura negra e afrodescendente.


PROPOSTA HUMANIZADORA DE LEITURA LITERÁRIA

                                                                                           Método Cultural de leitura (3,4)                 Método Recepcional (5,6)                                                                                                                                                                                                                

OFICINA
1
2
3
4
5                                   6                                          
ATIVIDADE
Sensibilização à prática da leitura do texto literário
Identificação das personagens da obra
Análise da apresentação e comportamento das personagens da obra
Construção de sentidos
      Construção de sentidos           Apresentação de atividades

No primeiro momento da oficina, houve muita reclamação sobre a extensão do livro, o tempo insuficiente que dispunham para fazer a leitura, já que os alunos trabalhavam o dia inteiro e de forma geral o único contato que tinham com textos literários era na escola.  No entanto, foi solicitado que lessem o primeiro capítulo para o encontro seguinte, daí discutiriam a pertinência da continuidade do projeto.

Houve a aceitação da proposta no encontro seguinte. Assim, deu-se continuidade a atividade, abordando em cada encontro determinados capítulos, segundo a ordem cronológica da obra. Intercalando a análise com outros recursos: textos de Lima Barreto e Monteiro Lobato, documentários. Destacando nos debates a construção dos personagens com base nas relações de trabalho, sexualidade e condição do negro na sociedade.

Os alunos utilizaram como ferramentas tecnológicas: o Podcast e produziram pequenos vídeos contemplando as correlações do enredo, personagens, espaço com situações em que viviam.

Ao final da atividade aplicaram-se outros dois questionários, com questões abertas para verificar o grau de amadurecimento dos discentes. Da mesma forma, os docentes da escola responderam um questionário com questões sobre leitura, ações interdisciplinares e o uso de TDIC em sala de aula.

 Após o término do trabalho, sistematizou-se um Caderno como uma proposta didática para abordar e debater as questões étnico-raciais, em especial ações para divulgar a Cultura e História Afrodescendente e Africana, conforme as diretrizes da lei 10.639/03; promovendo o pertencimento e valorização da cultura negra e consequentemente minimizando atos preconceituosos e racistas, a começar de uma abordagem do texto literário mais motivadora e significativa.


V- As conclusões alcançadas:

Os estudantes adotaram um comportamento mais reflexivo a respeito da cultura e história dos negros, passaram a identificar e combater as ideologias que fundamentam o racismo e preconceito, dessa forma, ressignificar as relações sociais.

VI- As contribuições especiais em relação ao assunto do trabalho:

Primeiro capítulo
Ênfase no embasamento teórico que fundamenta a construção da proposta pedagógica: estudos e conceitos envolvidos ao ensino de leitura literária nas escolas, formação de leitor e mediação pedagógica por meio de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação.

Principais aspectos:
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, ao final da Educação Fundamental, os discentes devem ter ― “competência em relação à linguagem que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado” (PCN, 1997, p. 41), ou seja, alcançar de forma progressiva, o letramento literário, o qual possibilitará o exercício social e acadêmico da cidadania.

Importância da leitura:

valorizar a leitura como fonte de informação, via acesso aos mudos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética‖ (PCN, 1997, p. 42)

A leitura deve ser dialógica, dialogar com outros textos e com o contexto cultural dos estudantes.

É importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui propriedades compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral do texto literário. (PCN, 1997, p. 36-37).

A escola precisa considerar o contexto em que os estudantes estão inseridos, para então pensar em mecanismos de ação.

Entre os muitos problemas que afligem o processo ensino-aprendizagem da língua materna no Brasil, estão, certamente, os relacionados com o aumento e a diversificação da clientela que acorre às escolas, (...), não obstante essas mudanças, não se cuidou ainda de repensar (ou elaborar) uma política educacional mais realista e mais adequada a essa clientela, que já não provém quase que exclusivamente das classes média e alta, mas também da classe trabalhadora e até dos segmentos considerados marginais ao sistema de produção. (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 27)

Considerando que há inúmeros símbolos presentes na língua, e dessa forma a sua pluralidade. Assim, o texto deve sempre ser visto como “―um elemento aberto, uma vez que está envolvido com processos comunicativos que se colocam incapazes de obter significados únicos, já que ele pode dizer tudo, exceto aquilo que o autor queria que dissesse.” (ECO, 2005, p. 46).

Nessa perspectiva, a leitura não é fechada, única, sem espaço para outros diálogos. A análise do texto, não pode primar apenas pelo viés estético, mas considerar o contexto social e histórico, parafrasear, valorizar o conhecimento de mundo, perceber as suas evocações, polissemias e isotopias semânticas.

O trabalho foi desenvolvido a partir da proposta humanizada de Cruz (2012), a qual propõe a leitura literária considerando o exercício de três competências comunicativas: introspecção, imagem visiva e interlocução; agregou-se a isso os preceitos do método de leitura cultural de Gomes (2014), este propõe interpretar o texto usando comparações intertextualizadas, interdisciplinares, as quais partem do texto e atingem os conflitos do cotidiano. Gomes defende a possibilidade de debater questões sociais a partir do enredo de obras literárias em análise.

A escola deve proporcionar aos estudantes oportunidades significativas com os textos literários, pois uma boa apresentação deles fará com que haja o interesse pela busca de outros, evidencia-se que a leitura como obrigatória não colabora para a formação de leitores críticos e motivados, mas proporciona apenas um contato superficial e descontextualizado com as necessidades artísticas e linguísticas do discente, ou seja, não o transforma em sujeito-leitor.

Nesse sentido, Tinoco (2010) defende a realização da leitura por meio da recepção de novos sentidos, o texto possui uma estrutura que leva ao seu sentido por meio de combinações linguísticas e literárias, daí a necessidade de se ter um leitor combinador, responsável por praticar um exercício de interpretação do texto, que se concretiza por meio da percepção de novos significados diante do que está, sócio-historicamente, determinado (p. 25).

 Esse processo é possível, porque o texto literário tem “espaços vazios”‖ (LIMA, 2012, p. 45), que permitem o preenchimento por meio do leitor, para isso o leitor não pode estar condicionado a apenas uma proposta ideológica, visto que ocasionaria a “má recepção do livro”‖ (TINOCO, 2010, p. 26).

A participação do leitor dar-se-ia mediante a coautoria do processo discursivo do texto.

A literatura se escreve com a lembrança daquilo que é, daquilo que foi. Ela a exprime, movimentando sua memória e a inscrevendo nos textos por meio de um certo número de procedimento de retomadas, de lembranças e de reescrituras, cujo trabalho faz aparecer o intertexto. Samoyault (2008, p. 47)

É preciso propor leituras literárias não mais respaldadas nas análises mecânicas, previamente propostas. Todavia, é indispensável desenvolver atividades que propiciem a emancipação do sujeito-leitor. Nesse sentido, “o leitor-receptor apreende os dados textuais e incorpora-os como informação pessoal que pode gerar novas discussões” (TINOCO, 2010, p. 28).

Logo, há um engajamento, envolvimento, resultado de um processo dialógico com a obra, em que o leitor identifica-se no texto e o traz para si, criando novos sentidos- “um processo de atualização do texto do autor”‖ (ROUXEL, 2013, p. 19). Nessa perspectiva, entende-se que os textos não estão presos ao tempo, esse entendimento não tira o preciosismo ou função social dos mesmos, apenas oportuniza a contextualização com o leitor, espaço e tempo atual. Sobre isso, Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro Silva, afirmam que é preciso “que a escola transforme a leitura literária que patrocina em uma atividade mais significativa”‖ (ZILBERMAN; SILVA, 2005, p. 93).

A proposta do trabalho é apresentar novas metodologias e finalidades para o ensino da literatura para que o leitor construa novos sentidos, a começar por mediações mais significativas e eficientes.

O texto deve promover um processo dialógico com diferentes situações, considerando a cultura, história e contexto da formação da identidade do povo, da sua língua. À vista disso, a obra literária é o passaporte para o desenvolvimento pessoal e social, é uma construção social e não apenas um instrumento para estudo estético.

A leitura literária deve ser “depositária de compreensão de novos mundos, de novos horizontes, com o poder para transformar visões de mundo e práticas cotidianas dos sujeitos que dela fazem uso” (CRUZ, 2014, p. 86)

não se lê por prazer, mas por dever. O estudo de textos literários incide, na maior parte, sobre fragmentos enxertados nos livros didáticos (...) a escola e a biblioteca deveriam descobrir uma adequada escolarização da leitura literária, ou seja, propiciar ao estudante uma vivência do literário, conduzir a práticas de leitura literária e formar leitores assíduos. Cruz (2012, p. 57)

 (...) o comando da leitura e da escrita se dá a partir de palavras e temas significativos à experiência comum dos alfabetizandos e não de palavras e temas apenas ligados à experiência do educador. (...) (FREIRE, 1989, p. 18).

Christofoli em suas análises sobre a modalidade de EJA aponta para o trabalho com o texto literário no sentido de uma ressocialização para a formação do leitor.

O que se pretende é formar jovens e adultos leitores, que gostem de ler e que possam usufruir do mundo da escrita do qual foram excluídos durante algum ou muito tempo. Ler é apropriar-se do significado do que lemos, e é exatamente este desafio que torna a aprendizagem da leitura um processo instigante e prazeroso. Reduzir a leitura ao mero exercício do decifrado é destituí-la de sentido. Christofoli (2009, p. 82)

Por isso a pertinência da leitura cultural, interdisciplinar e humanizadora:
Além das necessidades sócio-comunicativas, o aluno precisa conhecer outras situações textuais que ampliem significativamente o sentido de ler em sua vida. Porque o ato de ler não deve se resumir apenas ao valor técnico; ele deve ter acima de tudo um valor ético, pois possibilitará ao indivíduo estar no mundo de forma arguitiva e perquisitiva. (CRUZ, 2014, p. 8).

O intuito de colocar a “ficção em comparação com as tensões sociais dos dias atuais” (GOMES, 2014, p.14) é atrair mais leitores e contextualizar a obra.

Segundo capítulo

Apresenta a problemática do estudo desenvolvido. Há, ainda, a explanação de conceitos que reiteram a necessidade da resolução do problema identificado, levantamento de dados para justificar a problemática apontada; coleta de informações, seguida da análise. Do mesmo modo, aborda-se a possibilidade de se trabalhar a lei 10.639\03, sobre a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica, por meio da literatura.

Disserta-se sobre a necessidade de levar a literatura, com elementos da cultura africana, aos bancos escolares da Educação Básica do Brasil.

Terceiro capítulo

Expõe aspectos pedagógicos e metodológicos da pesquisa.

Com o objetivo de formar cidadãos e leitores conscientes de seu papel em sociedade, é desenvolvido um projeto literário de intervenção para o ato de ensino de Leitura a alunos da Educação de Jovens e Adultos que valorize o espaço e conhecimentos prévios do leitor. Pautada em ressignificar conceitos ligados à leitura literária e ao papel do leitor.

levar em conta heranças e conflitos que cada texto carrega – sejam culturais, sejam estéticos – para a construção do sentido dos textos (GOMES, 2014, p. 103).

A esse projeto é incorporado às tecnologias digitais de informação e comunicação, segundo as quais Almeida e Valente (2011) afirmam que as TDIC não devem ser “vistas como ferramentas tecnológicas, mas como ferramentas cognitivas, capazes de expandir a capacidade intelectual de seus usuários”.

Para as oficinas foram utilizados a Podcast, webcast e vídeos com encenações contendo uma releitura das personagens, do ambiente, das ideologias.


Quarto momento:

 Exposição das considerações para a elaboração de um material pedagógico para tratar de leituras literárias para o EJA. Há o debate sobre os conceitos teóricos, específicos para a elaboração do material, descrição das oficinas ministradas e a apresentação da proposta de roteiro de leitura para textos literários; resultado da análise do perfil do leitor perante o texto e necessidades para um ensino de leitura literário reflexivo.

É dada ênfase à análise da construção das personagens negras e mulatas, as relações de trabalho, comportamento e organização social dos negros na literatura brasileira; verificando a percepção do leitor diante da apresentação desses temas na obra em análise, de maneira a oportunizar um espaço para o debate e construção de um pensamento crítico acerca de questões relacionadas à formação de nossa cultura, identidade e estereótipos, fatores que contribuem para se constituir um leitor crítico.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M E B.; VALENTE, José A. Tecnologias e Currículo: trajetórias convergentes ou divergentes? São Paulo: Paulus, 2011.

BORDINI, Maria da Glória ; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: A formação do leitor - alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.

BORTONI – RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemos na escola, e agora? Sociolinguística e educação. Parábola Editorial. 2005.

CRUZ, Maria de Fátima Berenice da. Leitura literária na escola – desafios e perspectivas de um leitor. Salvador: EDUNEB, 2012.

CRUZ, Maria de Fátima Berenice da. Práticas de leitura literária para jovens e adultos. In: GOMES, Carlos Magno, Ramalho, Christina & Cardoso, Ana Maria Leal. Leituras literárias – mito, gênero e ancestralidade. São Cristóvão: Editora UFS, 2014.

CRISTOFOLI, Maria da Conceição Pillon. As possibilidades de leitura na EJA. In: LOCH, Jussara Margareth de Paula, BINS, Katiuscha Lara Genro et al. EJA- planejamento, metodologia e avaliação. Porto Alegre. Editora Mediação, 2009.

DINIZ – PEREIRA, Júlio Emílio; ZEICHNER, Kenneth. A pesquisa na formação e no trabalho docente. Belo Horizonte. Autêntica. 2011.

DUARTE, E. A. Falas do outro: literatura, gênero, etnicidade. Belo Horizonte: Nandyala. 2010.

ECO, Humberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo. Martins Fonte, 2005.

FREIRE, P.; MACEDO, D. Alfabetização – leitura do mundo/leitura da palavra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

GOMES, Carlos Magno; RAMALHO, Christina; CARDOSO, Ana Maria Leal. Leituras literárias – mito, gênero e ancestralidade. São Cristóvão: Editora UFS, 2014.

LIMA, Luiz Costa. A literatura e o leitor – textos de estética da recepção. São Paulo: Paz e Terra LTDA, 2012.

ROUXEL, Annie; LANGLADE, Gérard; REZENDE, Neide Luzia (Org.). Leitura subjetiva e ensino de literatura. São Paulo: Alameda, 2013.

SAMOYAULT, Tiphaine. A intertextualidade. Tradução Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008.

TINOCO, Robson Coelho. Leitor real e teoria da recepção – travessias contemporâneas. São Paulo: Editora Horizonte, 2010.

ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura- perspectivas interdisciplinares. São Paulo. Ática, 2005.







2ª Ficha bibliográfica

Estratégias de leitura: uma contribuição para a formação do leitor crítico e autônomo

I- Campo do saber abordado:
Estratégias de leitura para a formação do leitor crítico e autônomo


1.Leitura. 2. Práticas de leitura. 3. Leitura e formação.

Referência completa do trabalho:

Reis, Andréia doVale

Estratégias de leitura: uma contribuição para a formação do leitor crítico e autônomo / Andréia do Vale Reis. – Santo Antônio de Jesus, 2015. 174f.

Orientador: Profª. Drª. Monalisa dos Reis Aguiar Pereira
Dissertação (Mestrado Profissional em Letras - PROFLETRAS) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas. Campus V. 2015.

Contém referências e anexos.
1.Leitura. 2. Práticas de leitura. 3. Leitura e formação. I. Pereira, Monalisa dos Reis Aguiar. II. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas.

CDD: 370.156

Motivação:

Dissertação apresentada à Universidade do Estado da Bahia-UNEB, como parte das exigências dо curso do Programa dе Pós-Graduação em Mestrado Profissional em Letras- PROFLETRAS para obtenção do título de mestre.
Orientadora: Profa. Dra. Monalisa dos Reis Aguiar Pereira
SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BA
2015

Professores Examinadores:

Profa. Dra. Monalisa dos Reis Aguiar Pereira
Presidente
Universidade do Estado da Bahia – CAMPUS V

Profa. Dra. Rosemere Ferreira da Silva
Universidade do Estado da Bahia – CAMPUS V

Profa. Dra. Daniele de Oliveira
Universidade Federal da Bahia
Departamento de Letras Vernáculas



A dissertação pode ser encontrada no endereço:

https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=3388367 


II- O problema e as questões de pesquisa:
Pode-se construir uma intervenção pedagógica que possa favorecer a formação do leitor crítico e autônomo nas séries finais do ensino fundamental?

III- Objetivos:
Gerais:
Contribuir na formação do leitor crítico e autônomo por meio da aplicação de estratégias de leitura em textos argumentativos do gênero artigo de opinião.

Específicos:
Ampliar a aplicação de estratégias de leitura para a construção do sentido do texto;
Desenvolver as habilidades leitoras;
 Alterar a compreensão do ato de ler como simples decodificação em prática social.

IV- Metodologia:

 Desenvolveu-se a pesquisa-ação em um contexto de escola pública, onde a pesquisadora exerceu o papel de professora. O objetivo da escolha dessa metodologia era construir e investigar a eficiência de uma intervenção pedagógica, pois como afirma Bagno (2007, p.18) ela é uma ―investigação feita com o objetivo expresso de obter conhecimento específico e estruturado sobre um assunto preciso.

A pesquisa-ação, segundo Bagno, apresenta uma metodologia comum às outras pesquisas, visto que também trabalha processos de diagnóstico, de participação, produção e experimentação.

Nesse procedimento, o problema pede uma intervenção que propicie a mudança.

Essa estratégia consegue aliar a teoria à prática, analisar o já estabelecido e favorecer a construção de novos caminhos, conhecimentos.

O tipo de abordagem utilizada foi a qualitativa, pois o objetivo não era enumerar nem mesmo medir fenômenos, mas compreender os fenômenos a partir da ótica dos sujeitos envolvidos e propor soluções possíveis para o problema. A escolha por esse tipo de abordagem apoiou-se também no fato da pesquisa em educação considerar a historicidade, as crenças e os valores dos sujeitos envolvidos.

Segundo Creswell(2010), o uso do método qualitativo possibilita a utilização de múltiplas formas de coletas de dados.

Optou-se pela observação participativa, na qual o pesquisador observa e interage com os sujeitos do estudo, por meio do diálogo, entrevistas, conversa, visto que se trata de uma investigação descritiva. Nesse sentido, priorizaram-se as atitudes de observar, conhecer, compreender e explicar, considerando o processo dialógico.

Como pesquisa preliminar, foram realizados estudos e leituras, a partir dos dados, estabeleceu-se a seguinte hipótese:  aplicação de estratégias de leitura em textos argumentativos do gênero artigo de opinião poderia contribuir para a formação do leitor.

Pesquisa preliminar:

Entrevista com os docentes da escola sobre funções da literatura, importância da mesma para a formação do aluno e do docente, como trabalhar literatura em sala de aula, recursos utilizados nas aulas de literatura, dificuldades encontradas no trabalho com a literatura, em quais perspectivas e metodologia trabalhavam com a literatura.

Problema: Desempenho insatisfatório dos alunos em leitura, nas séries finais do ensino fundamental, pois este é um entrave para a construção da autonomia e criticidade dos alunos enquanto sujeitos sociais.
Este desempenho abaixo do esperado fora constatado a partir da análise dos dados das avaliações, atividades.

Os sujeitos da investigação:

 Eles compunham duas turmas do 9º ano, um total de 58 alunos, no entanto, os responsáveis autorizaram a divulgação de dados de apenas 30 estudantes. Deste total, 60% correspondem ao gênero feminino e 40% ao masculino.

A turma tinha 70% dos estudantes fora da faixa de idade para a série, entre 15 e 18 anos, os motivos variavam: repetência, entrada tardia na escola, abandono e retorno.

Instrumentos de pesquisa:

Para compreensão da situação dos alunos, no que se refere à leitura, foram escolhidos os seguintes instrumentos de pesquisa: memorial de leitura, uma atividade com questões da Prova Brasil, entrevista e exercícios de compreensão leitora do livro didático.

1º Memorial:

O memorial de leitura como instrumento investigativo possibilita perceber as relações sociais dos contextos históricos, culturais, ideológicos e emocionais dos sujeitos da pesquisa.

Os alunos deveriam fazer uma exposição do primeiro contato com os livros, do processo de aprendizagem da leitura de textos escritos, situações e recordações de prática de leitura em casa, das formas de ler e os suportes preferidos, autoavaliação sobre a própria leitura, as dificuldades, as sensações e sentimentos vivenciados durante a leitura.

O resultado demonstrou imposição da leitura como processo mecânico e baseado na mera decodificação. O ensino da leitura não envolvia a construção de sentido.

2º Atividade envolvendo descritores da Prova Brasil:

Aplicação de questões da Prova Brasil como instrumento de diagnóstico.
O resultado demonstrou que a capacidade leitora dos discentes estava no nível básico e abaixo do básico.

A análise dos dados foi feita quantificando o número de alunos que marcaram a alternativa correta.

3º Entrevista

Entrevista com os sujeitos da investigação, os estudantes, sobre o nível de entendimento de variados textos; a respeito da compreensão das questões de interpretação propostas por professores, avaliações, livros; estratégias utilizadas para compreensão dos textos.

A entrevista mostrou que os alunos, no geral, não leem os textos integralmente, apenas procuram palavras que indicam as respostas. Quando confrontados sobre a Prova Brasil, afirmaram que era uma avaliação que precisava ler e pensar, por isso as notas baixas. Observou-se que poucos estudantes percebem a necessidade da leitura completa de um texto para compreendê-lo corretamente, a habilidade leitora que mais dominam era localizar informações explícitas no texto.

4º Exercício de compreensão leitora

Este instrumento foi submetido a um processo de análise de conteúdo.
Investigar o comportamento dos alunos em uma atividade de compreensão proposta pelo livro didático.

Essa atividade contribuiu para traçar o perfil das turmas quanto à compreensão leitora e colaborou para direcionar a quais as estratégias de leitura que os alunos recorrem para a compreensão do texto.

Constatou-se uma leitura superficial, apenas conseguiam perceber informações explícitas nos textos. Houve dificuldade de identificar a tese, de estabelecer relação entre tese e argumentos, de inferir informações.

Proposta de intervenção

Após a etapa da pesquisa-intervenção, elabora-se uma proposta de intervenção:

Sequência didática- norteadora metodológica, então, decide-se aplicar as estratégias de leitura em textos argumentativos  do gênero artigo de opinião, pelo fato desse tipo de texto permitir o dialogismo , a polifonia, a discussão das questões sociais controversas, tendo por finalidade convencer ou persuadir o leitor.

Outro motivo para a escolha do artigo de opinião vem do entendimento da leitura como prática social e do estudo da língua sob a ótica do interacionismo. Sendo assim, o artigo de opinião promove maior interação, uma vez que convida o leitor para participar da opinião do autor sobre um tema polêmico.

A partir das vivências dos alunos delimitou-se o assunto: “Para o preconceito três ações são essenciais: repudiar, combater, denunciar”, o qual teve como foco quatro grupos sociais discriminados: índios, negros, mulheres e homossexuais.

Produto:
Sequência didática

Sequência didática o ― conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos (ZABALA, 2007:p.18). 

A metodologia desta sequência didática foi estruturada em um conjunto de atividades que envolveram recursos e as estratégias de leitura proposta por Isabel Solé (2009).

Objetivo: 

Desenvolver as habilidades leitoras;
Encorajar a destituição da subordinação passiva e do comodismo errante diante das propostas de leitura do livro  didático.

Aplicação da sequência didática:

As estratégias de leitura foram definidas e distribuídas em três módulos didáticos, foi atribuído a cada um deles um conjunto de atividades que visam promover a prática da leitura, o letramento digital, o lúdico e o estudo de elementos linguísticos, contribuindo para o conhecimento e a formação dos alunos enquanto sujeitos leitores.

Conteúdo: Estratégias de leitura
Gênero do discurso: Artigo de Opinião
Assunto: Discriminação
Tema: Para o preconceito três ações são essenciais: repudiar, combater e denunciar
Suportes: Revistas, sites, blogs, redes sociais ( whatsapp, Facebook)
Produto Final: Produção de um blog

Objetivos da Sequência Didática:

 Objetivo geral:

- Contribuir na formação do leitor crítico e autônomo por meio da aplicação de estratégias de leitura em textos argumentativos do gênero artigo de opinião.

Objetivos específicos:

- Ampliar a aplicação de estratégias de leitura para a construção do sentido do texto;
- Desenvolver as habilidades leitoras;
- Alterar a compreensão ato de ler como simples decodificação em prática social.

Habilidades a serem desenvolvidas

a) Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la;
b) Identificar a tese de um texto;
c) Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato;
d) Inferir uma informação implícita em um texto;
e) Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema.

Primeiro módulo: ensino e desenvolvimento das estratégias para a ativação dos conhecimentos prévios, o estabelecimento de objetivos para a leitura, a realização de inferências, a identificação do tema, o reconhecimento da ideia central e a elaboração da síntese, ou seja, resumo.

Após a realização das estratégias de antecipação das informações e ativação de conhecimentos prévios sobre o texto, os alunos realizam a leitura silenciosa do texto. Em seguida, a leitura compartilhada em voz alta.

Por meio dessa leitura, os alunos percebem as entonações que explicitam os efeitos da pontuação, também perceberão as previsões e a procura de indícios para constar a veracidade das previsões, as inferências;

O objetivo para essa etapa é ampliar a aplicação de estratégias de leitura para a construção do sentido do texto.

Para o desenvolvimento dessas ações foram utilizadas 18 (dezoito) aulas.

Segundo módulo: desenvolvimento de habilidades leitoras, por meio do gênero artigo de opinião. Nessa etapa, as atividades envolvem a identificação da tese, o estabelecimento de relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la, a distinção dentre fato e opinião, inferência e reconhecimento de posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema presentes no texto.

Nessa etapa, as atividades ocorreram no período de 14 (quatorze) aulas.

 Terceiro módulo: Estudos sobre coerência e coesão. Leitura, seleção, socialização de textos e construção de sentido. Os alunos selecionaram artigos de opinião que abordavam o tema, publicizaram e apresentaram opiniões, comentários sobre os textos.

Após os três módulos, houve um momento para o letramento digital. Para essas ações os alunos fizeram uso de Internet, whatsapp, Facebook e blog.

Nessa etapa, foram utilizadas 8 (oito) aulas.

A proposta utilizou um tempo muito vasto e mesmo assim, não suficiente, segundo a pesquisadora.
O objetivo que norteou tais ações foi possilitar aos alunos situações e meios para alterar a compreensão do ato de ler como simples decodificação em prática social.

V- Conclusões:

Um dos resultados obtidos apontou para ganhos no que se refere à competência leitora dos sujeitos envolvidos, indicando desenvolvimento de habilidades de leitura. Outro aspecto sinalizado foi a contribuição do uso de artigo de opinião para a formação do leitor enquanto sujeito reflexivo. De modo geral, a aplicação da sequência didática, envolvendo as estratégias de leitura, provocou no aluno, sujeito-leitor, uma mobilização para a leitura autônoma e crítica acerca de si, do texto, do outro, da diversidade e do mundo.

VI- As contribuições especiais em relação ao assunto do trabalho:

Nos capítulos 1 e 2 trata-se sobre as concepções de leitura, contexto do leitor, escola e a pesquisa qualitativa. Eis algumas considerações:

A escola deve entender a leitura como prática social, pois ela interage com o leitor, possibilita a ampliação da compreensão que o leitor tem de si e da sociedade e lhe permite a inserção crítica e participativa no corpus social.

Os resultados das avaliações internas e externas do Brasil, nas últimas décadas, apontam para uma formação deficitária do leitor.

A leitura não representa valor positivo absoluto, pois há culturas que se baseiam apenas na oralidade, então não se pode ter uma posição etnocêntrica; há de se avaliar também quem produz os textos e atendendo a qual finalidade eles circulam socialmente. Já que é sabido que a cada época, as relações de poder e fatos sociais determinaram os objetos lidos, o público- alvo e as razões para ler. Magda Soares chama a atenção para a consideração desses aspectos.

Essa interpretação traduz, além de um etnocentrismo, uma perspectiva unilateral; etnocentrismo, porque a leitura é vista com desconfiança, em certas culturas, às vezes, utilizada como instrumento de opressão; perspectiva unilateral, porque os valores atribuídos à leitura expressam a visão, numa sociedade de classes, dos grupos que a mantêm a posse e o controle dos modos de produção (SOARES, 2004.p.20).

A cada tempo, as relações de poder e fatos sociais influenciaram e determinaram os objetos lidos, as pessoas que leem e os motivos para ler.

Freire afirma que a leitura de mundo antecede a leitura da palavra, as colocações de Martins estão em consonância com esse pensamento:

(...) a leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido – seja escrito, sonoro, seja um gesto, uma imagem, um acontecimento. Esse diálogo é referenciado por um tempo e um espaço, uma situação; desenvolvido de acordo com os desafios e as respostas que o objetivo representa, em função de expectativas e necessidades, do prazer das descobertas e do reconhecimento de vivências do leitor (MARTINS, 1994, p. 33).

Os avanços científicos e tecnológicos, iniciados no século XIX e seus inúmeros progressos estendidos para os séculos XX e XXI, trouxeram modificações e avanços importantes para a cultura letrada, esses se mostram como desafios e novas possibilidades para o professor e o estudante: celulares, computadores, ipad, e-book, kobo, lev, netbook, smartphone, ipod, tablet, notebook, kindle. Esse contexto demonstra o caráter social da leitura, a qual como prática que se modifica, se reinventa a cada momento histórico.

O ato de ler é uma prática social relacionada à concepção sociointeracionista de linguagem, a qual, segundo Bakhtin, concebe a língua como:

a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. a interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 1999, p. 123).

Nesse sentido, o texto é construído na interação texto-sujeito (autor/leitor), num processo dialógico, em que o leitor se constrói e é construído.

Então, um dia, da janela de um carro (o destino daquela viagem está agora esquecido), vi um cartaz na beira da estrada. A visão não pode ter durado muito; talvez o carro tenha parado por um instante, talvez tenha apenas diminuído a marcha, o suficiente para que eu lesse grandes, gigantescas, certas formas semelhantes às do meu livro, mas formas que eu nunca vira antes. E, contudo, de repente eu sabia o que eram elas; escutei-as em minha cabeça, elas se metamorfosearam, passando de linhas pretas e espaços brancos a uma realidade sólida, sonora, significante. Eu tinha feito tudo aquilo sozinho. Ninguém realizara a mágica para mim. Eu e as formas estávamos sozinhos juntos, revelando-nos em um diálogo silenciosamente respeitoso. Como conseguia transformar meras linhas em realidade viva, eu era todo-poderoso. Eu podia ler (MANGUEL,1997, p.18 – grifos nossos).

A leitura possibilita o pensar, o estabelecer relações entre passado e presente, compreender e ser sujeito da história, podendo contribuir para a sua mudança ou apenas dar continuidade a ela.

 A escola, instituição legitimada para o ensino da leitura, não pode pautar suas estratégias apenas na decodificação de símbolos impressos, formando um leitor decodificador, treinado e mecanizado para usar a leitura simplesmente para responder exercícios, atividades.

 [...] a atividade de leitura é difusa e confusa, muitas vezes se constituindo apenas em um pretexto para cópias, resumos, análise sintática, e outras tarefas do ensino da língua. Assim, encontramos o paradoxo que, enquanto fora da escola o estudante é perfeitamente capaz de planejar as ações que o levarão a um objetivo pré-determinado (por exemplo, elogiar alguém para conseguir um favor) quando se trata de leitura, de interação à distância através do texto, na maioria das vezes esse estudante começa a ler sem ter ideia de onde quer chegar, e, portanto, a questão de como irá chegar lá... nem sequer supõe (KLEIMAN, 1999, p.30).

Assim, criar condições de leitura não implica apenas alfabetizar ou propiciar acesso aos livros. Trata-se, antes, de dialogar com o leitor sobre a sua leitura, isto é, sobre o sentido que ele dá (MARTINS,1999, p. 34).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento que orienta a educação brasileira, a língua é um sistema de signos histórico e social e deve ser ensinada no sentido de propiciar uma aprendizagem significativa que dê ao estudante a possibilidade de compreender a sua realidade e o mundo.

o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a língua: características do gênero, do portador , do sistema de escrita, etc. Não se trata simplesmente de extrair informação da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica, necessariamente, compreensão na qual os sentidos começam a ser constituídos antes da leitura propriamente dita (BRASIL, 1997, p.41).

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) implementou uma série de medidas para fornecer referencial teórico, metodológico e avaliativo : Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), instituição de Parâmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais, aplicação de avaliações para aferir os níveis de aprendizagem da Educação Básica.

Os PCNs dizem que a leitura “(...) é uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar nos textos suposições feitas”. (BRASIL, 1998, p. 70).

Proporcionar atividades em que a leitura é concebida e realizada como interação entre leitor (es)-texto-autor,  permite ao aluno conseguir construir sentido para o que foi lido. Ele passa a alterar a compreensão do ato de ler como simples decodificação.

Em seu artigo Letramento digital e ensino, o doutor em Linguística, professor Antônio Carlos Xavier, afirma que a escola deve possibilitar a utilização de equipamentos digitais para que os alunos possam reinventar seu cotidiano, por meio de diferentes usos da linguagem em práticas sociais que envolvam a leitura e ou a escrita.

Os capítulos 3 e 4 discorrem sobre a construção da proposta de intervenção e aplicação da sequência de leitura, estes tratam, detalhadamente, da metodologia utilizada para o desenvolvimento do produto. Essas etapas estão devidamente descritas no tópico Metodologia.

REFERÊNCIAS

BAGNO, M. Pesquisa na escola – o que é como se faz. 21.ed. São Paulo: Loyola, 2007.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 6.ed. São. Paulo: Martins Fontes, 2011.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF,1997.

______, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998a.

CRESWELL, Jonh W. Projeto de pesquisa. Porto Alegre: Artmed, 2010.

KLEIMAN, Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 6.ed. São Paulo: Pontes, 1999.

MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. Coleção Primeiros Passos, 19. ed. São Paulo : Brasiliense, 1994 (Coleção Primeiros Passos; ).

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.