segunda-feira, 10 de dezembro de 2018


O Mestrado e o IFB


        Em parte do meu Memorial Descritivo Acadêmico, conto sobre o desejo que perpassou toda minha trajetória profissional: O propósito de cursar o Mestrado dentro de uma instituição que fosse reconhecida, respeitada. Então, esse ano tive a oportunidade de retornar à Academia como mestranda de uma Instituição com intervenções educacionais e sociais relevantes, profícuas, significativas.  Tenho como professores um grupo de doutores que não restringe a produção do conhecimento científico aos limites da Academia, mas que ousa romper como o formalismo e trabalha no sentido de aliar reflexões teóricas à prática, num processo de construção de conhecimento significativo, crítico, reflexivo, de sensibilidade, de empatia.

  Esse mestrado, por ser profissional, tem uma característica diferenciada, isso me chamou a atenção. Ao analisar o edital, estudar o material, a identificação com a proposta foi imediata, pois se voltava para a prática, à realidade; à aplicação no contexto escolar. Propiciava, também, estabelecer um contraponto, um diálogo com as propostas do Ensino Médio e EJA praticadas pela SEEDF e pelo Instituto Federal.

 Ser partícipe desse contexto como pesquisadora é a possibilidade de revisitar e ressignificar práticas, metodologias, convicções. Romper com o comodismo e mecanização e retornar para a sala de aula com perspectivas diferenciadas.

 É hora de muita leitura, produção de conhecimento, trabalho intenso,  mas em todo tempo é SEMPRE hora de Gratidão.

Conheça no vídeo abaixo um pouco mais sobre a instituição.













Bibliotecas do IFB
As bibliotecas do IFB possuem um ótimo acervo e um ambiente agradável. Excelentes para as leituras, reflexões e produção de conhecimento.
Assista ao vídeo e saiba mais.




Visita técnica ao IFB Campus Planaltina

No dia 22 de novembro de 2018, a turma do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica do IFB realizou uma visita técnica ao IFB Campus Planaltina.

O Campus Planaltina é uma fazenda com uma área de 2.300 hectares, localizado na zona rural de Planaltina. Foi criado em 1959 como Escola Agrotécnica Federal de Brasília (EAF), mas em 2008 integrou-se à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, amparada na Lei nº 11.892 que criou os Institutos Federais.

A unidade oferece o Técnico em Agropecuária na modalidade Ensino Médio Integrado, para alunos que já tenham concluído o Ensino Fundamental. Também os cursos Técnicos Subsequentes: Técnico em Agroindústria, Técnico em Agropecuária para os estudantes que já concluíram o Ensino Médio.

Na modalidade ensino superior há os cursos: Licenciatura em Biologia e Tecnológico em Agroecologia. O Campus oferece os seguintes Cursos a distância: Meio Ambiente (E-Tec), Programador de Sistemas (FIC), Secretaria Escolar (Profuncionário), Segurança do Trabalho (E-Tec). Além desses, existem os Cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC): Auxiliar de Produção Animal (PROEJA), Horticultor (PROEJA), Libras Básico, Saúde e Teclado Básico.

A visita permitiu que os mestrandos conhecessem um pouco da rotina da escola que alia teoria e prática. Nesse movimento a teoria é comprovada, enriquecida, construída, reconstruída, contestada, tudo a partir da práxis (observação e ação).

A turma de mestrandos conheceu as plantações de laranja, do limão doce, obteve informações de procedimentos e técnicas para a criação de tilápia, de suínos, bovinos. Na visita aos laboratórios conheceu o Projeto que produz cerveja artesanal com baixo custo.

A produção de hortifrúti, pecuária não tem fins comerciais, mas atende a necessidade do Campus, sendo destinada às refeições dos estudantes.

 Essa visita permite uma vivência concreta daquilo que é o Trabalho como princípio educativo, os estudantes do Campus precisam observar, analisar, trabalhar com os modos de produção, os fatores econômicos e disporem-se a fazer da aula uma atividade constante, já que é necessário aprender e registrar independente da hora: os cuidados com a alimentação, o processo de reprodução, o parto dos animais, bem como os processos que envolvem a produção de hortifrúti, dentre outros mecanismos para a manutenção das atividades agropecuárias e agroindústriais.
















terça-feira, 20 de novembro de 2018

Quebrando correntes

Exemplos de Produtos Educacionais

   A obra literária permite construções, desconstruções, faz provocações, traz o incômodo, o encantamento, instiga a reflexão e a tomada de decisão, não se é o mesmo depois da leitura dos universos literários.
    Essas experiências foram vivenciadas pelos alunos do IFB Taguatinga que mergulharam na obra "O cortiço" de Aluísio de Azevedo, realizaram uma análise crítica- reflexiva da composição das personagens femininas e reescreveram as histórias dessas mulheres como se elas estivessem vivendo no século XXI. E como um dos textos afirma: "Foi uma quebra de correntes".
 Confira algumas composições:



    O trabalho foi idealizado e mediado pela professora  doutora Veruska Ribeiro Machado.


Professora doutora Veruska Ribeiro Machado

Por uma educação significativa

Exemplos de Produtos Educacionais

   A releitura do poema "Todas as idades" de Cora Coralina fomentou a construção de bonecas personalizadas que simbolizam a história de vida, de luta, de superação de mulheres que não estão sob as luzes dos holofotes da fama e nem do glamour, não desfrutam  do prestígio e privilégios dos altos círculos sociais, mas são GRANDES e revelam a força, vigor e garra em poemas que contam as trajetórias de superação de percalços, pedras no meio do caminho e tantas vezes de Tsunamis. São as brasileiras que contrariam os contras da vida e nos presenteiam com histórias inspiradoras.










  Esse projeto foi idealizado e mediado pela professora doutora em Educação Veruska Ribeiro Machado do IFB Taguatinga.
    Os alunos do Proeja aproveitaram o momento e homenagearam a professora com uma boneca personalizada.

Professora doutora Veruska Ribeiro Machado e sua sósia.





terça-feira, 16 de outubro de 2018



 3ª Ficha bibliográfica

Caderno de leitura literária para a EJA : uma proposta étnico-racial

I- O campo do saber que é abordado:

Leitura literária da obra O Cortiço de Aluísio Azevedo

Referência completa do trabalho:

Nascimento, Deise Santos do
Caderno de leitura literária para a EJA : uma proposta étnico-racial / Deise Santos do Nascimento ; orientador Carlos Magno Santos Gomes. – Itabaiana (SE), 2015.
133 f. : il.
Dissertação (mestrado Profissional em Letras) - Universidade Federal de Sergipe, 2015.
1. Literatura – Estudo e ensino. 2. Leitores – Reação crítica. 3. Ensino – Meios auxiliares. 4. Cultura afro-brasileira. I. Gomes, Carlos Magno Santos, orient. II. Título.
CDU 82

Professores Examinadores

Prof. Dr. Carlos Magno Santos Gomes ( Presidente da Comissão Julgadora)
Profa. Dra. Jeane de Cássia Nascimento Santos ( Examinadora interna)
Profa. Dra. Maria de Fátima Berenice da Cruz (Examinadora externa)

Motivação:

Dissertação do Trabalho de Conclusão Final (TCF) apresentada ao PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS PROFISSIONAL EM REDE (PROFLETRAS) – UNIDADE DE ITABAIANA - da Universidade Federal de Sergipe (UFS), como requisito necessário para a obtenção de título de Mestre em Letras.

II- O problema e as questões de pesquisa:

III- Os objetivos:
 Geral:

Desenvolver uma prática de leitura literária com ênfase na formação do leitor e na análise crítica das representações afro-brasileiras na literatura, para turmas da Educação de Jovens e Adultos.

 Específicos:

- Desenvolver habilidades de leitura literária a partir de numa abordagem sociocultural;
- Identificar as questões étnico-raciais;
- Ampliar horizontes a partir da reprodução da obra, pelo olhar do leitor.


IV- A metodologia utilizada pelo pesquisador:

Proposta: Oficina de práticas literárias de leitura

A proposta da oficina de práticas literárias de leitura surgiu como fruto de um minicurso oferecido pelos mestrandos a professores e estudantes das licenciaturas, o evento foi realizado em dois dias e o público alvo demonstrou satisfação com abordagem metodológica, mas propuseram adaptações, como: aumentar o tempo de duração das oficinas e selecionar textos mais curtos, para a prática intertextual. Esse resultado foi aferido a partir da aplicação de questionários e discussões ao final de cada etapa do minicurso.

Como a proposta da abordagem na oficina ainda estava no campo das ideias, houve a necessidade de aprimorá-la e aplicá-la em sala de aula, verificando, assim, acertos e erros, para, então, elaborar um material socializando a abordagem metodológica.

Em março de 2015, os 25 alunos da escola estadual selecionada, matriculados na 4ª etapa do EJAEF (Educação de Jovens e Adultos no Ensino Fundamental II) tiveram contato, inicialmente, com o projeto a ser desenvolvido com eles. Um questionário foi aplicado para obter informações sobre o estado do aluno, ponto de vista e o comportamento antes do contato com a obra literária O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Nesse questionário, as questões básicas versavam sobre o nível de contato da turma com a leitura. O resultado trouxe considerações do pouco envolvimento e familiaridade com a prática de leitura literária.

A escola, onde se aplicou o método, está localizada no município de Laranjeiras/SE, dispõe de um total de 1140 alunos matriculados e 255 alunos, distribuídos no turno da noite. A instituição tem biblioteca e laboratório de informática, locais estabelecidos para o desenvolvimento e aplicação da Oficina de Leitura Literária.

As ações da atividade foram fundamentadas na proposta humanizada de Cruz (2012), a qual propõe a leitura literária considerando o exercício de três competências comunicativas: introspecção, imagem visiva e interlocução; agregou-se a isso os preceitos do método de leitura cultural de Gomes (2014), este propõe interpretar o texto usando comparações intertextualizadas, interdisciplinares, as quais partem do texto e atingem os conflitos do cotidiano. Gomes defende a possibilidade de debater questões sociais a partir do enredo de obras literárias em análise.

O projeto também foi mediado pelo método Recepcional de Bordini e Aguiar (1988, p. 86) foram aplicadas por entender que o sujeito, no contato com o texto, traz consigo a bagagem de experiências linguísticas e sociais e os processos de leitura permitem ao leitor que em um determinado momento haja “uma interação direcionada, na qual ele reconhece os significados que lhe são familiares ou enfrenta os desconhecidos, mas com indicações que o auxiliam a aceitar ou pelo menos criticar o novo e, ao mesmo tempo, situar a esse em relação ao que já aceita ou passa a rejeitar” (BORDINI; AGUIAR, 1988, p. 87).

Método Recepcional, Bordini & Aguiar (1988, p. 91), este contempla as seguintes etapas:

a) percepção do texto por meio da determinação do horizonte de expectativas do leitor, isto é, previsão de estratégias que possam romper e transformar conceitos, valores pré-estabelecidos;
b) atendimento ao horizonte de expectativas: disponibilizar informações que contemplem os anseios esperados, ou seja, que estejam de acordo com as conclusões esperadas e provenientes de um processo histórico;
c) ruptura do horizonte de expectativas, momento de propagar novas ideias também por meio de novos textos que se assemelhem aos anteriores em relação a um aspecto, que pode ser sobre o tema, o tratamento, a estrutura ou a linguagem; capaz de retomar as experiências de leitura das etapas anteriores;
d) questionamento do horizonte de expectativa, estudos levantados sobre a produção de sentido entre as etapas “b” e “c”, seguida de análises;
e) ampliação do horizonte de expectativas, oportunidade para a tomada de consciência das alterações e aquisições informacionais, obtidas através da experiência com a literatura disponibilizada.

A Oficina de Leitura Literária para a EJA é elaborada partindo do referencial teórico fundamentado na proposta humanizadora de leitura literária para a EJA de CRUZ (2012), nas práticas de leitura através do intertexto cultural proposto por GOMES (2014) e pelos cinco procedimentos do método Recepcional de BORDINI e AGUIAR (1988). Estes permitem trabalhar a percepção do texto através de um debate acerca do comportamento reconhecido diante do texto lido.

Com o objetivo principal de formar leitores conscientes de seu processo histórico e cultural para a formação de uma identidade, a análise do negro na literatura brasileira é fundamentada pela visão de DUARTE (2010).

As atividades desenvolvidas contaram com a utilização das TDIC (Tecnologias digitais de informação e comunicação), no intuito de atrair o leitor ao ato de ler.

Sendo assim, o trabalho foi respaldado nas orientações metodológicas da pesquisa-ação participativa, uma vez que esta oportuniza a autorreflexão por se fundamentar numa perspectiva social, participativa, prática e colaborativa; emancipatória; crítica e reflexiva.

almeja ajudar as pessoas a investigarem a realidade para mudá-la (Fals Borda, 1979). Ao mesmo tempo, também podemos dizer que ela procura auxiliar as pessoas a mudarem a realidade para investigá-la. Em termos mais específicos, a pesquisa-ação participativa tenta ajudar orientar as pessoas a investigarem e a mudarem suas realidades sociais e educacionais por meio da mudança de algumas das práticas que constituem suas realidades vividas. Diniz-Pereira e. Zeichner (2011, p. 40)

A formação do leitor foi trabalhada em seis encontros temáticos, cada um com duas horas- aula, a obra explanada foi O Cortiço, de Aluísio Azevedo, pautada, segundo a mestranda, numa perspectiva prática, contextualizada, dialógica associada às questões da cultura negra e afrodescendente.


PROPOSTA HUMANIZADORA DE LEITURA LITERÁRIA

                                                                                           Método Cultural de leitura (3,4)                 Método Recepcional (5,6)                                                                                                                                                                                                                

OFICINA
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5                                   6                                          
ATIVIDADE
Sensibilização à prática da leitura do texto literário
Identificação das personagens da obra
Análise da apresentação e comportamento das personagens da obra
Construção de sentidos
      Construção de sentidos           Apresentação de atividades

No primeiro momento da oficina, houve muita reclamação sobre a extensão do livro, o tempo insuficiente que dispunham para fazer a leitura, já que os alunos trabalhavam o dia inteiro e de forma geral o único contato que tinham com textos literários era na escola.  No entanto, foi solicitado que lessem o primeiro capítulo para o encontro seguinte, daí discutiriam a pertinência da continuidade do projeto.

Houve a aceitação da proposta no encontro seguinte. Assim, deu-se continuidade a atividade, abordando em cada encontro determinados capítulos, segundo a ordem cronológica da obra. Intercalando a análise com outros recursos: textos de Lima Barreto e Monteiro Lobato, documentários. Destacando nos debates a construção dos personagens com base nas relações de trabalho, sexualidade e condição do negro na sociedade.

Os alunos utilizaram como ferramentas tecnológicas: o Podcast e produziram pequenos vídeos contemplando as correlações do enredo, personagens, espaço com situações em que viviam.

Ao final da atividade aplicaram-se outros dois questionários, com questões abertas para verificar o grau de amadurecimento dos discentes. Da mesma forma, os docentes da escola responderam um questionário com questões sobre leitura, ações interdisciplinares e o uso de TDIC em sala de aula.

 Após o término do trabalho, sistematizou-se um Caderno como uma proposta didática para abordar e debater as questões étnico-raciais, em especial ações para divulgar a Cultura e História Afrodescendente e Africana, conforme as diretrizes da lei 10.639/03; promovendo o pertencimento e valorização da cultura negra e consequentemente minimizando atos preconceituosos e racistas, a começar de uma abordagem do texto literário mais motivadora e significativa.


V- As conclusões alcançadas:

Os estudantes adotaram um comportamento mais reflexivo a respeito da cultura e história dos negros, passaram a identificar e combater as ideologias que fundamentam o racismo e preconceito, dessa forma, ressignificar as relações sociais.

VI- As contribuições especiais em relação ao assunto do trabalho:

Primeiro capítulo
Ênfase no embasamento teórico que fundamenta a construção da proposta pedagógica: estudos e conceitos envolvidos ao ensino de leitura literária nas escolas, formação de leitor e mediação pedagógica por meio de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação.

Principais aspectos:
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, ao final da Educação Fundamental, os discentes devem ter ― “competência em relação à linguagem que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado” (PCN, 1997, p. 41), ou seja, alcançar de forma progressiva, o letramento literário, o qual possibilitará o exercício social e acadêmico da cidadania.

Importância da leitura:

valorizar a leitura como fonte de informação, via acesso aos mudos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética‖ (PCN, 1997, p. 42)

A leitura deve ser dialógica, dialogar com outros textos e com o contexto cultural dos estudantes.

É importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui propriedades compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral do texto literário. (PCN, 1997, p. 36-37).

A escola precisa considerar o contexto em que os estudantes estão inseridos, para então pensar em mecanismos de ação.

Entre os muitos problemas que afligem o processo ensino-aprendizagem da língua materna no Brasil, estão, certamente, os relacionados com o aumento e a diversificação da clientela que acorre às escolas, (...), não obstante essas mudanças, não se cuidou ainda de repensar (ou elaborar) uma política educacional mais realista e mais adequada a essa clientela, que já não provém quase que exclusivamente das classes média e alta, mas também da classe trabalhadora e até dos segmentos considerados marginais ao sistema de produção. (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 27)

Considerando que há inúmeros símbolos presentes na língua, e dessa forma a sua pluralidade. Assim, o texto deve sempre ser visto como “―um elemento aberto, uma vez que está envolvido com processos comunicativos que se colocam incapazes de obter significados únicos, já que ele pode dizer tudo, exceto aquilo que o autor queria que dissesse.” (ECO, 2005, p. 46).

Nessa perspectiva, a leitura não é fechada, única, sem espaço para outros diálogos. A análise do texto, não pode primar apenas pelo viés estético, mas considerar o contexto social e histórico, parafrasear, valorizar o conhecimento de mundo, perceber as suas evocações, polissemias e isotopias semânticas.

O trabalho foi desenvolvido a partir da proposta humanizada de Cruz (2012), a qual propõe a leitura literária considerando o exercício de três competências comunicativas: introspecção, imagem visiva e interlocução; agregou-se a isso os preceitos do método de leitura cultural de Gomes (2014), este propõe interpretar o texto usando comparações intertextualizadas, interdisciplinares, as quais partem do texto e atingem os conflitos do cotidiano. Gomes defende a possibilidade de debater questões sociais a partir do enredo de obras literárias em análise.

A escola deve proporcionar aos estudantes oportunidades significativas com os textos literários, pois uma boa apresentação deles fará com que haja o interesse pela busca de outros, evidencia-se que a leitura como obrigatória não colabora para a formação de leitores críticos e motivados, mas proporciona apenas um contato superficial e descontextualizado com as necessidades artísticas e linguísticas do discente, ou seja, não o transforma em sujeito-leitor.

Nesse sentido, Tinoco (2010) defende a realização da leitura por meio da recepção de novos sentidos, o texto possui uma estrutura que leva ao seu sentido por meio de combinações linguísticas e literárias, daí a necessidade de se ter um leitor combinador, responsável por praticar um exercício de interpretação do texto, que se concretiza por meio da percepção de novos significados diante do que está, sócio-historicamente, determinado (p. 25).

 Esse processo é possível, porque o texto literário tem “espaços vazios”‖ (LIMA, 2012, p. 45), que permitem o preenchimento por meio do leitor, para isso o leitor não pode estar condicionado a apenas uma proposta ideológica, visto que ocasionaria a “má recepção do livro”‖ (TINOCO, 2010, p. 26).

A participação do leitor dar-se-ia mediante a coautoria do processo discursivo do texto.

A literatura se escreve com a lembrança daquilo que é, daquilo que foi. Ela a exprime, movimentando sua memória e a inscrevendo nos textos por meio de um certo número de procedimento de retomadas, de lembranças e de reescrituras, cujo trabalho faz aparecer o intertexto. Samoyault (2008, p. 47)

É preciso propor leituras literárias não mais respaldadas nas análises mecânicas, previamente propostas. Todavia, é indispensável desenvolver atividades que propiciem a emancipação do sujeito-leitor. Nesse sentido, “o leitor-receptor apreende os dados textuais e incorpora-os como informação pessoal que pode gerar novas discussões” (TINOCO, 2010, p. 28).

Logo, há um engajamento, envolvimento, resultado de um processo dialógico com a obra, em que o leitor identifica-se no texto e o traz para si, criando novos sentidos- “um processo de atualização do texto do autor”‖ (ROUXEL, 2013, p. 19). Nessa perspectiva, entende-se que os textos não estão presos ao tempo, esse entendimento não tira o preciosismo ou função social dos mesmos, apenas oportuniza a contextualização com o leitor, espaço e tempo atual. Sobre isso, Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro Silva, afirmam que é preciso “que a escola transforme a leitura literária que patrocina em uma atividade mais significativa”‖ (ZILBERMAN; SILVA, 2005, p. 93).

A proposta do trabalho é apresentar novas metodologias e finalidades para o ensino da literatura para que o leitor construa novos sentidos, a começar por mediações mais significativas e eficientes.

O texto deve promover um processo dialógico com diferentes situações, considerando a cultura, história e contexto da formação da identidade do povo, da sua língua. À vista disso, a obra literária é o passaporte para o desenvolvimento pessoal e social, é uma construção social e não apenas um instrumento para estudo estético.

A leitura literária deve ser “depositária de compreensão de novos mundos, de novos horizontes, com o poder para transformar visões de mundo e práticas cotidianas dos sujeitos que dela fazem uso” (CRUZ, 2014, p. 86)

não se lê por prazer, mas por dever. O estudo de textos literários incide, na maior parte, sobre fragmentos enxertados nos livros didáticos (...) a escola e a biblioteca deveriam descobrir uma adequada escolarização da leitura literária, ou seja, propiciar ao estudante uma vivência do literário, conduzir a práticas de leitura literária e formar leitores assíduos. Cruz (2012, p. 57)

 (...) o comando da leitura e da escrita se dá a partir de palavras e temas significativos à experiência comum dos alfabetizandos e não de palavras e temas apenas ligados à experiência do educador. (...) (FREIRE, 1989, p. 18).

Christofoli em suas análises sobre a modalidade de EJA aponta para o trabalho com o texto literário no sentido de uma ressocialização para a formação do leitor.

O que se pretende é formar jovens e adultos leitores, que gostem de ler e que possam usufruir do mundo da escrita do qual foram excluídos durante algum ou muito tempo. Ler é apropriar-se do significado do que lemos, e é exatamente este desafio que torna a aprendizagem da leitura um processo instigante e prazeroso. Reduzir a leitura ao mero exercício do decifrado é destituí-la de sentido. Christofoli (2009, p. 82)

Por isso a pertinência da leitura cultural, interdisciplinar e humanizadora:
Além das necessidades sócio-comunicativas, o aluno precisa conhecer outras situações textuais que ampliem significativamente o sentido de ler em sua vida. Porque o ato de ler não deve se resumir apenas ao valor técnico; ele deve ter acima de tudo um valor ético, pois possibilitará ao indivíduo estar no mundo de forma arguitiva e perquisitiva. (CRUZ, 2014, p. 8).

O intuito de colocar a “ficção em comparação com as tensões sociais dos dias atuais” (GOMES, 2014, p.14) é atrair mais leitores e contextualizar a obra.

Segundo capítulo

Apresenta a problemática do estudo desenvolvido. Há, ainda, a explanação de conceitos que reiteram a necessidade da resolução do problema identificado, levantamento de dados para justificar a problemática apontada; coleta de informações, seguida da análise. Do mesmo modo, aborda-se a possibilidade de se trabalhar a lei 10.639\03, sobre a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica, por meio da literatura.

Disserta-se sobre a necessidade de levar a literatura, com elementos da cultura africana, aos bancos escolares da Educação Básica do Brasil.

Terceiro capítulo

Expõe aspectos pedagógicos e metodológicos da pesquisa.

Com o objetivo de formar cidadãos e leitores conscientes de seu papel em sociedade, é desenvolvido um projeto literário de intervenção para o ato de ensino de Leitura a alunos da Educação de Jovens e Adultos que valorize o espaço e conhecimentos prévios do leitor. Pautada em ressignificar conceitos ligados à leitura literária e ao papel do leitor.

levar em conta heranças e conflitos que cada texto carrega – sejam culturais, sejam estéticos – para a construção do sentido dos textos (GOMES, 2014, p. 103).

A esse projeto é incorporado às tecnologias digitais de informação e comunicação, segundo as quais Almeida e Valente (2011) afirmam que as TDIC não devem ser “vistas como ferramentas tecnológicas, mas como ferramentas cognitivas, capazes de expandir a capacidade intelectual de seus usuários”.

Para as oficinas foram utilizados a Podcast, webcast e vídeos com encenações contendo uma releitura das personagens, do ambiente, das ideologias.


Quarto momento:

 Exposição das considerações para a elaboração de um material pedagógico para tratar de leituras literárias para o EJA. Há o debate sobre os conceitos teóricos, específicos para a elaboração do material, descrição das oficinas ministradas e a apresentação da proposta de roteiro de leitura para textos literários; resultado da análise do perfil do leitor perante o texto e necessidades para um ensino de leitura literário reflexivo.

É dada ênfase à análise da construção das personagens negras e mulatas, as relações de trabalho, comportamento e organização social dos negros na literatura brasileira; verificando a percepção do leitor diante da apresentação desses temas na obra em análise, de maneira a oportunizar um espaço para o debate e construção de um pensamento crítico acerca de questões relacionadas à formação de nossa cultura, identidade e estereótipos, fatores que contribuem para se constituir um leitor crítico.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M E B.; VALENTE, José A. Tecnologias e Currículo: trajetórias convergentes ou divergentes? São Paulo: Paulus, 2011.

BORDINI, Maria da Glória ; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: A formação do leitor - alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.

BORTONI – RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemos na escola, e agora? Sociolinguística e educação. Parábola Editorial. 2005.

CRUZ, Maria de Fátima Berenice da. Leitura literária na escola – desafios e perspectivas de um leitor. Salvador: EDUNEB, 2012.

CRUZ, Maria de Fátima Berenice da. Práticas de leitura literária para jovens e adultos. In: GOMES, Carlos Magno, Ramalho, Christina & Cardoso, Ana Maria Leal. Leituras literárias – mito, gênero e ancestralidade. São Cristóvão: Editora UFS, 2014.

CRISTOFOLI, Maria da Conceição Pillon. As possibilidades de leitura na EJA. In: LOCH, Jussara Margareth de Paula, BINS, Katiuscha Lara Genro et al. EJA- planejamento, metodologia e avaliação. Porto Alegre. Editora Mediação, 2009.

DINIZ – PEREIRA, Júlio Emílio; ZEICHNER, Kenneth. A pesquisa na formação e no trabalho docente. Belo Horizonte. Autêntica. 2011.

DUARTE, E. A. Falas do outro: literatura, gênero, etnicidade. Belo Horizonte: Nandyala. 2010.

ECO, Humberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo. Martins Fonte, 2005.

FREIRE, P.; MACEDO, D. Alfabetização – leitura do mundo/leitura da palavra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

GOMES, Carlos Magno; RAMALHO, Christina; CARDOSO, Ana Maria Leal. Leituras literárias – mito, gênero e ancestralidade. São Cristóvão: Editora UFS, 2014.

LIMA, Luiz Costa. A literatura e o leitor – textos de estética da recepção. São Paulo: Paz e Terra LTDA, 2012.

ROUXEL, Annie; LANGLADE, Gérard; REZENDE, Neide Luzia (Org.). Leitura subjetiva e ensino de literatura. São Paulo: Alameda, 2013.

SAMOYAULT, Tiphaine. A intertextualidade. Tradução Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008.

TINOCO, Robson Coelho. Leitor real e teoria da recepção – travessias contemporâneas. São Paulo: Editora Horizonte, 2010.

ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura- perspectivas interdisciplinares. São Paulo. Ática, 2005.