Ciência como vocação – Max Weber
Algumas considerações
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Max Weber |
O termo especialista traz em si
dois sentidos distintos, um remete a alguém que se diferencia por possuir
habilidades ou conhecimentos vastos, excepcionais em determinada profissão,
atividade, ramo do saber. A outra acepção diz respeito à restrição deste a
apenas uma área ou campo da ciência, ou seja, a um domínio limitado.
José Ortega, no livro A rebelião das massas, afirma que o
especialista domina um recorte pequeno do saber, isso o torna um “sábio-ignorante”.
Nessa perspectiva, Weber afirma
que a ciência no seu processo de construção tornou-se especializada, a partir
da divisão da pesquisa, das áreas de trabalho. Em vista disso, não há explicações
globais, universais. O físico, por exemplo, não explica as causas, as
implicações dos processos da História.
Todavia, para Weber, essa
especialização, subdivisão por áreas pode ser bem sucedida desde que haja uma dedicação
especial: apaixonada.
Sem essa preciosa intoxicação,
ridicularizada pelos que estão do lado de fora, sem essa paixão, essa sensação
de que “milhares de anos se passarão antes que você ingresse na vida de outros
milhares esperarão em silêncio” – dependendo de sua interpretação ser correta,
a ciência não é sua vocação, e você deve fazer alguma outra coisa. Porque nada
tem valor para um ser humano como ser humano se não puder fazê-lo com dedicação
apaixonada.¹
Sendo assim, para ter uma vida
científica os elementos como: o trabalho perseverante, a dedicação apaixonada e
a inspiração precisam estar conectados. É o racional aliado ao irracional.
[...] o trabalho perseverante, tanto
quanto a dedicação apaixonada, é capaz de estimular a intuição. Tanto esta,
quanto aquele – e especialmente ambos juntos – fazem com que ele surja. Mas
isso só se dá quando lhe apraz e não de acordo com o que desejamos. É certo, na
verdade, que as melhores ideias ocorrem, como disse certa vez Ihnring, quando
se está tranquilamente fumando um charuto, ou como Helmholtz conta de si
próprio, com precisão científica, durante uma caminhada em uma rua ligeiramente
inclinada, ou de algum modo semelhante; em todo caso, elas chegam quando não
são esperadas – e não quando se está quebrando a cabeça na mesa de trabalho.²
Weber explica, também, que o
cientista não pode se deixar inflamar pela vaidade, pela ilusão de se
considerar o detentor absoluto da verdade, colocando a ciência no topo do saber
soberano e ele como um legítimo arauto, pois a ciência avança constantemente,
está num processo de ininterrupta superação do já existente. Há sempre novos
produtos, medicamentos, tecnologias que se sobrepõem aos anteriores. Assim, o cientista não deve querer mais do que
ser um especialista: aquele que aponta soluções para os problemas identificados
e mostra problemas onde só havia certezas, consciente de que seu trabalho não
se completa, não se fecha, mas é força motriz para novos avanços.
Cada realização científica levanta novos
“problemas” e terá de ser “ultrapassada” e de se tornar obsoleta. Este é o
destino – e, de fato, o significado de toda obra científica. A isso ela se
submete e se dedica. Isso a distingue de todas as demais esferas da cultura que
também exigem submissão e dedicação. Todo aquele que deseja servir à ciência
deve adaptar-se a isso. Os empreendimentos científicos, é bem verdade, podem
perdurar como “satisfações” devido a sua qualidade artística; podem também
continuar sendo importantes como recurso de treinamento para o trabalho
científico atual. Porém – deve ser repetido –, não é só nosso destino, como
também nosso objetivo, que sejamos cientificamente superados. Em princípio,
esse progresso vai ad infinitum.
¹ WEBER,
Max. Ciência como vocação, p. 436
² WEBER, op. cit., p. 436-437.
³ Ibid,
p. 438-439.